O médico e professor da Unicamp Dr. César Cabello, durante entrevista ao BC TV

A prevenção como gesto de afeto e consciência coletiva foi o ponto central da entrevista exclusiva concedida nesta segunda-feira (27) ao programa BC TV, do portal Brasil Confidencial, pelo médico e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), César Cabello.

“Prevenir é um ato de amor — amor-próprio, amor à vida e amor às pessoas que caminham com a gente”, afirmou o especialista, ao defender que o cuidado com a saúde da mulher deve ultrapassar o Outubro Rosa e se tornar parte da rotina.

Durante a entrevista, conduzida pelos jornalistas Camila Srougi e Germano Oliveira, Cabello defendeu que a prevenção deve ser encarada como um estilo de vida, e não como uma ação pontual restrita ao mês de outubro.

“Outubro é simbólico, mas nossa luta precisa ser todos os meses. Todos os meses são Outubro Rosa para quem trabalha com saúde da mulher”, disse.

A jornalista Camila Srougi quis saber se a prevenção vai muito além dos exames de rotina. O médico e professor concordou e reforçou que é preciso mudar a forma como a sociedade enxerga o cuidado com a saúde feminina. “Prevenção não é apenas fazer mamografia. É ter consciência do que representa o câncer de mama na população e adotar atitudes que reduzam os riscos desde cedo.”

Prevenção começa antes do exame

César Cabello explicou que o câncer de mama continua sendo o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, e que as estratégias preventivas precisam ser ampliadas.

“O câncer de mama é o mais frequente na população feminina mundial. E, no Brasil, ele representa um grande desafio de saúde pública. Por isso, a prevenção deve começar muito antes do diagnóstico.”

Segundo o médico, a prevenção primária envolve hábitos saudáveis e atenção redobrada para mulheres com histórico familiar importante.
“Mulheres que têm mãe, irmã ou filha diagnosticadas antes dos 50 anos precisam de um olhar diferente. Nesses casos, discutimos desde mudanças de estilo de vida até, em algumas situações, cirurgias redutoras de risco — como fez a atriz Angelina Jolie.”

Rastreamento e diagnóstico

O médico e professor da Unicamp destacou ainda a relevância da prevenção secundária, que inclui o rastreamento mamográfico.

“O Ministério da Saúde atualizou as diretrizes e hoje recomenda que a mamografia comece aos 40 anos para mulheres com risco habitual. O diagnóstico precoce continua sendo nossa principal arma”, declarou.

Mas ele faz um alerta: não basta diagnosticar cedo se o tratamento demora a começar.

“Não adianta nada descobrir o câncer precocemente e levar um ano para iniciar o tratamento. O atraso entre diagnóstico e terapia impacta diretamente a chance de cura”, afirmou Cabello.

Cuidar também é tratar com dignidade

Ao falar sobre os casos mais avançados, o doutor Cabello ressaltou o papel das prevenções terciária e quaternária, que buscam oferecer tratamento adequado e qualidade de vida para quem já convive com a doença.

“Quando o câncer é diagnosticado, é essencial que o tratamento seja rápido e de qualidade — com boa cirurgia, quimioterapia e radioterapia adequadas.”

“E mesmo nas situações de doença metastática, o foco deve ser a dignidade da mulher. O objetivo é aliviar a dor, preservar a autoestima e permitir que ela continue vivendo com qualidade”, afirmou.

📺 A entrevista completa está disponível no canal BC TV:

Conheça o médico e professor César Cabello

Professor associado e livre-docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, César Cabello coordena a Divisão de Oncologia do Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti” (Caism/Unicamp), liderando áreas como mastologia, oncologia ginecológica, radioterapia e oncologia clínica.

Formação Acadêmica

  • Graduação, mestrado, doutorado e livre-docência pela Unicamp
  • Research Fellow em doenças mamárias na Universidade de Londres (1992)

Atuação em Pesquisa e Ensino

César Cabello é autor de diversos artigos científicos e capítulos de livros, com foco em câncer ginecológico, doenças mamárias e educação médica. Atua na formação de residentes, mestrandos e doutorandos, contribuindo para o avanço da medicina no Brasil.

Números de casos de câncer feminino no Brasil

Dados atualizados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) até 2024

  • Câncer de mama: 74 mil casos novos/ano. Taxa de cura entre 85% e 95% se detectado precocemente.
  • Câncer colorretal: 23.660 casos/ano. Taxa de cura entre 60% e 90%.
  • Câncer do colo do útero: 17 mil casos/ano. Até 90% de cura em fases iniciais.
  • Câncer de pulmão: 13 mil casos/ano. Taxa de cura inferior a 20%.
  • Câncer de tireoide: 11 mil casos/ano. Taxa de cura superior a 95%.

Avanços no Tratamento

O Brasil tem incorporado novas terapias no SUS e na saúde suplementar, como imunoterapia, terapias-alvo e medicamentos personalizados. A medicina de precisão tem permitido tratamentos mais eficazes e menos invasivos.