O Deserto do Saara, uma das regiões mais áridas e quentes do planeta, poderá registrar aumento significativo nas chuvas nas próximas décadas. A conclusão é de um estudo da Universidade de Illinois em Chicago (UIC), publicado na revista npj Climate and Atmospheric Science, que projeta até 75% mais precipitação na região até 2100.
Atualmente, o Saara recebe cerca de 7,6 centímetros de chuva por ano. Com o avanço do aquecimento global, esse volume pode quase dobrar, segundo simulações feitas com 40 modelos climáticos. A pesquisa analisou dois cenários: um com emissões moderadas de gases de efeito estufa e outro com emissões muito altas. Em ambos, a tendência é de aumento das chuvas em grande parte do continente africano.
O autor principal do estudo, Thierry Ndetatsin Taguela, pesquisador de pós-doutorado em clima na Faculdade de Artes e Ciências da UIC, afirma que as mudanças nos padrões de precipitação terão impacto direto sobre bilhões de pessoas. “Precisamos começar a planejar como enfrentar essas mudanças, desde o controle de enchentes até o cultivo de plantas resistentes à seca”, disse.
Além do Saara, outras regiões africanas também devem ser afetadas. O sudeste da África pode registrar aumento de até 25% nas chuvas, enquanto o centro-sul do continente pode ter alta de 17%. Em contrapartida, o sudoeste africano tende a ficar mais seco, com redução de cerca de 5% na precipitação.
Taguela explica que o fenômeno está relacionado ao aquecimento da atmosfera, que permite maior retenção de umidade no ar, favorecendo chuvas mais intensas. Ele também destaca a influência das mudanças nos padrões de circulação atmosférica, que alteram a distribuição das chuvas no continente.
Apesar da concordância entre os modelos sobre a tendência de um Saara mais úmido, o pesquisador alerta para a incerteza quanto à magnitude das mudanças. “Aprimorar esses modelos é fundamental para aumentar a confiança nas projeções regionais”, afirmou.
O estudo reforça a necessidade de adaptação às novas condições climáticas, com foco em infraestrutura, agricultura e gestão de recursos hídricos.

