Três dias após a Operação Contenção, que resultou em 121 mortes entre civis e policiais, no Rio de Janeiro, até o momento as autoridades do governo do estado não divulgaram a lista com os nomes dos mortos nem dos 113 detidos, sendo 33 de outros estados.
Os únicos identificados oficialmente foram os quatro agentes de segurança: Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, 51, comissário da 53ª DP (Mesquita); Rodrigo Velloso Cabral, 34, da 39ª DP (Pavuna); Cleiton Serafim Gonçalves, 42, 3º sargento do Bope; e Heber Carvalho da Fonseca, 39, também 3º sargento do Bope.
Durante a madrugada de quarta-feira (29), moradores da Penha retiraram dezenas de corpos de uma área de mata conhecida como Pedreira e os levaram até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas. A ação dobrou o número de mortos inicialmente contabilizados. Familiares iniciaram ali o reconhecimento dos corpos.
Isabela Nascimento, madrinha de Jonatha Barreto da Silva, 18, afirmou que o estado do corpo do afilhado impossibilitou a realização de velório. “Vai ser caixão fechado”, disse ela, em frente ao Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto.
Outros seis nomes foram confirmados por familiares à imprensa: Fabian Alves Martins, 22; Luiz Carlos de Jesus Andrade, 23; Alessandro Alves da Silva, 19; Juan Souza Maciel, 20; Márcio da Silva de Jesus, 22; e Aleilson da Cunha, 26.
Marcela Alves Martins, 25, viajou do Espírito Santo com os pais para liberar o corpo do irmão, Fabian. “A gente pediu tanto para ele sair dali e ir para casa”, afirmou. Eduardo Brasil, amigo de Fabian, acompanhou a família. “Ele veio tentar mudar de vida. E acabou acontecendo isso.”
Maria Clara, 17, mãe do filho de Luiz Carlos, disse que ele trabalhava como mototaxista na Penha e não tinha envolvimento com o crime. Segundo ela, o jovem enviou mensagens pedindo ajuda antes de morrer. “Ele mandou áudio dizendo ‘eu vou morrer, estamos encurralados’.”
Aline Alves da Silva relatou que o irmão, Alessandro, também pediu socorro por áudio. “Mandou para minha mãe, para a ex-mulher, para minha irmã. Todo mundo tentou ir lá.”
A Defensoria Pública da União protocolou pedido no Supremo Tribunal Federal para acompanhar as perícias dos corpos, no âmbito da ADPF 635, que regula operações policiais em favelas. A Defensoria Pública do Rio também solicitou acesso ao IML com seu núcleo técnico. Fabiana da Silva, da ouvidoria da Defensoria, afirmou ter visto corpos com marcas de tortura.
Parte dos cadáveres foi levada ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Mariana Chaves, ex-companheira de Juan Souza Maciel, reconheceu o corpo do ex-marido e relatou constrangimento. “Os policiais riram da nossa cara. Isso é desumano.”
Rosiane Costa da Silva e Selma Elias de Jesus, mãe e tia-avó de Márcio da Silva de Jesus, foram ao IML para reconhecimento. “Era nosso filho, meu e dela. Ela pariu e eu criei”, disse Selma, que entrou na mata atrás do corpo.
Joyce, esposa de Aleilson da Cunha, lamentou que a filha de seis anos já soubesse da morte do pai. “Tentei negar, mas ela disse: ‘mamãe, para de mentir, eu sei que meu papai morreu’.”
O Ministério Público Federal e a DPU pediram explicações ao governador Cláudio Castro (PL-RJ) sobre a operação, questionando se não havia alternativa menos violenta. Até o momento, não há inquérito instaurado para apurar possíveis abusos. O MP-RJ informou que realiza investigação independente.
Na quarta-feira (29), o delegado Felipe Curi afirmou que a Polícia Civil vai investigar moradores da Penha por suposta fraude processual, alegando que roupas de combate teriam sido retiradas de corpos levados à Praça São Lucas.


