BRASIL EM FOCO
Germano Oliveira*
Quando foi condenado a 27 anos e três meses de prisão na semana passada, Jair Bolsonaro começou a ver a cadeia cada vez mais próxima do seu dia a dia, sobretudo quando o STF começar a executar a pena a que foi condenado. Isso talvez aconteça até o final do ano, depois que o tribunal publicar o acórdão no Diário da Justiça e conceder prazo para que os advogados de defesa façam os recursos possíveis. É óbvio, por certo, que eles não terão direito aos tais recursos infringentes, pois, para que isso acontecesse, precisaria haver dois votos divergentes no julgamento, o que não aconteceu. Como sabemos, o ex-presidente teve apenas um voto a seu favor, conferido pelo indigitado ministro Luiz Fux.
Na medida em que Donald Trump passa a ameaçar o STF e o governo Lula, afirmando que, se o ex-presidente for preso, o governo americano vai intensificar as medidas de retaliação ao Brasil, essas ameaças já ganharam uma resposta das autoridades brasileiras: se sanções forem impostas ao nosso país, Bolsonaro irá direto para o Presídio da Papuda, em Brasília. Sem choro nem velas.
Ocorre que o medo de Bolsonaro passar alguns anos na Papuda é maior do que as ameaças de Trump ao ministro Alexandre de Moraes ou ao presidente Lula. O ex-presidente está apavorado e já tenta montar um álibi para não ficar atrás das grades, nem mesmo por uma curta temporada. Bolsonaro quer ficar em prisão domiciliar, seja com tornozeleira eletrônica ou não. O que ele não quer é uma penitenciária para chamar de sua. E a Papuda é uma masmorra da qual ele quer se livrar.
Por isso, Bolsonaro já está armando a farsa de que está muito doente e que, com mais de 70 anos, não poderia ser levado para essa penitenciária maldita. Já pediu para ser periciado no último sábado, 13, quando os médicos constataram que ele tem problemas de refluxo, soluços constantes e falta de algumas vitaminas, como ferro. Ou seja, os defensores do ex-capitão já preparam um pedido para que ele cumpra a prisão em casa, numa mansão na área nobre de Brasília.
Anistia nunca mais
Por isso mesmo, seus aliados no Congresso, assim como os principais ocupantes dos governos estaduais — como é o caso de Tarcísio de Freitas (SP) e Jorginho Mello (SC) — estão tentando emplacar a votação do projeto da Anistia, para que Bolsonaro possa ser colocado em liberdade e considerado elegível ainda no ano que vem.
Como sabemos, a Anistia não é clamor das ruas (segundo o Datafolha, a maioria não quer que se dê o perdão para Bolsonaro e sua turma), e no Congresso já se fala que o projeto não vai decolar. Na Câmara pode passar, mas será barrado no Senado. E mesmo que passe no Senado, Lula não o sancionará, vetando-o. No caso de o Congresso derrubar o veto, alguém poderá encaminhar um pedido ao STF para que a medida seja considerada inconstitucional. Portanto, a Anistia já nasceu natimorta.
Além disso, Bolsonaro agora é uma figura nociva. Ninguém o quer por perto. Para Tarcísio, o melhor seria ser o candidato à presidência sem o rançoso apoio dos bolsonaristas posicionados na extrema-direita. Afinal, o governador de São Paulo pode ser de direita, mas não está engolfado na turma que defende golpes de Estado desde as priscas épocas do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o maior torturador que o Brasil já teve. Bolsonaro e seus filhos o veneram, mas Tarcísio é um técnico menos radical. Não se conhece nenhuma defesa sua aos regimes militares — nem o de 1964, muito menos o de 2022, articulado pelos bolsonaristas.
*Germano Oliveira é Diretor do BRASIL CONFIDENCIAL.