
Apesar do apelo do presidente da COP-30, o embaixador André Corrêa do Lago, para que o setor privado participe presencialmente da conferência climática da ONU em Belém, os principais executivos das grandes empresas brasileiras não devem comparecer.
A decisão, tomada de forma reservada, reflete preocupações com a infraestrutura limitada da cidade e o receio de se tornarem alvo de manifestações de ativistas ambientais.
“Há um risco real de exposição”, afirmou um executivo sob condição de anonimato. “A logística não comporta uma delegação corporativa de grande porte.” A escassez de acomodações adequadas e os altos preços de hospedagem foram citados como entraves adicionais. Por questões de compliance, muitas empresas não autorizam seus representantes a se hospedarem em imóveis de pessoas físicas, o que restringe ainda mais as opções.
Em vez disso, diversas companhias estão optando por enviar profissionais das áreas de sustentabilidade para estadias mais longas, enquanto seus CEOs devem realizar visitas breves ou participar remotamente. Outros líderes empresariais concentrarão sua atuação em São Paulo, onde uma série de eventos paralelos à COP-30 está programada para os dias que antecedem a conferência oficial.
Uma COP paralela em São Paulo
Nos bastidores do empresariado, circula o lema “A COP também é aqui”, reforçando a ideia de que São Paulo será o epicentro das discussões corporativas sobre clima. Entre os dias 6 e 9 de novembro, a cidade sediará o Climate Action Innovation Zone, evento que reunirá soluções e tecnologias voltadas à sustentabilidade empresarial. Um dos destaques será a participação de Makhtar Dipo, diretor-geral da International Finance Corporation (IFC). Esta será a primeira edição do evento fora da cidade-sede da COP desde 2021.
“O objetivo é mostrar que o setor privado está comprometido com a agenda climática, mesmo que não esteja fisicamente em Belém”, afirmou Marina Cançado, fundadora da gestora Converge Capital e uma das organizadoras da Climate Implementation Zone, parte da programação do Innovation Zone.
Outros encontros relevantes incluem o Finance Forum, promovido pela Bloomberg Philanthropies entre os dias 3 e 5 de novembro, e o PRI in Person, conferência internacional sobre investimento responsável, marcada para os dias 4 a 6 de novembro.
A iniciativa Sustainable Business COP (SB COP), liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), também estará presente no Finance Forum. Representando entidades industriais de 43 países e mais de 35 milhões de empresas, a SB COP apresentará propostas e soluções empresariais voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Presença simbólica
A ausência de CEOs em conferências climáticas não é novidade. Nas edições anteriores — 2024 no Azerbaijão, 2023 nos Emirados Árabes Unidos e 2022 no Egito — a presença de líderes empresariais foi discreta. A última participação significativa ocorreu em 2021, na Escócia, segundo fontes próximas à organização.
Organizadores da COP-30 admitem, em caráter reservado, que poucos presidentes de grandes companhias estarão em Belém. A estratégia, portanto, será destacar aqueles que comparecerem, posicionando-os como representantes informais de seus setores. “Se uma empresa envia seu CEO, isso sinaliza que a pauta climática é estratégica”, afirmou um interlocutor próximo à organização. “Queremos que essas vozes tenham peso.”
A COP-30 será realizada em Belém entre os dias 10 e 21 de novembro, em meio a crescentes expectativas sobre o papel do setor privado nas negociações climáticas globais. Para muitas empresas, a escolha por São Paulo representa uma mudança de abordagem: menos presença física, mais influência estratégica.




