Centro de pesquisas da KAIST, na Coreia do Sul, onde o estudo está em andamento. (Foto: Divulgação)

Imagine se, em vez de destruir células cancerígenas, pudéssemos reprogramá-las para voltarem a ser saudáveis.

Isso pode parecer algo futurista, mas cientistas da KAIST, na Coreia do Sul, desenvolveram uma tecnologia inovadora que pode mudar totalmente o tratamento do câncer.

KAIST é a sigla para Korea Advanced Institute of Science and Technology, uma das principais universidades de pesquisa da Coreia do Sul.

Fundada em 1971, a instituição é reconhecida por sua excelência em ciência, engenharia e tecnologia, sendo um dos centros acadêmicos mais inovadores da Ásia.

A equipe do professor Kwang-Hyun Cho descobriu um “interruptor molecular” escondido na rede genética, capaz de impedir que células normais se tornem cancerígenas.

Em testes com células de câncer de cólon, eles conseguiram ativar esse interruptor e fazer com que células doentes recuperassem características saudáveis.

Esse avanço foi possível graças a um método que analisa a transição crítica das células, ou seja, o momento exato em que elas passam de normais para cancerígenas—como a água que se transforma em vapor ao atingir 100°C. A ideia é usar essa descoberta para desenvolver terapias menos agressivas, que reprogramam células ao invés de destruí-las, reduzindo os efeitos colaterais comuns em tratamentos como quimioterapia.

Uma nova era na Oncologia

O tratamento do câncer sempre foi baseado em estratégias que visam eliminar as células doentes. Cirurgias, quimioterapia e radioterapia têm sido os pilares da medicina oncológica, mas todos esses métodos vêm acompanhados de efeitos colaterais severos. A pesquisa da KAIST sugere uma mudança de paradigma: em vez de destruir as células cancerígenas, seria possível restaurá-las à normalidade.

Esse conceito pode ser um divisor de águas na medicina moderna. Além de minimizar os danos ao corpo, ele permitiria abordagens personalizadas, adaptadas ao perfil genético de cada paciente. A tecnologia pode ser aplicada não só ao câncer colorretal, mas a outros tipos de tumores, desde que os pesquisadores consigam mapear o “interruptor molecular” correspondente em cada caso.

Desafios

Embora a descoberta seja promissora, ainda há desafios a serem superados antes que essa tecnologia chegue aos pacientes. Um dos maiores obstáculos é a validação clínica, já que é necessário testar sua eficácia em larga escala e garantir que não haja efeitos adversos imprevistos.

Além disso, a escalabilidade do tratamento precisa ser analisada. Criar terapias baseadas em manipulação genética é um processo complexo, exigindo investimentos em infraestrutura e profissionais altamente especializados.

Por outro lado, a integração dessa tecnologia com inteligência artificial pode acelerar testes e simulações genéticas, otimizando a personalização dos tratamentos. Com mais estudos e aprimoramento, os cientistas esperam que, em um futuro não tão distante, a reversão do câncer se torne uma alternativa viável à quimioterapia e outros métodos convencionais.

O estudo foi publicado na revista científica Advanced Science e traz uma nova esperança na luta contra o câncer. Se a ideia se concretizar, o impacto na medicina será comparável a revoluções como o uso de antibióticos para tratar infecções no século passado.