O governador do Rio, Claudio Castro, reunido com colegas da direita bolsonarista, na semana passada. (Foto: EBC)

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), atuou junto ao governo dos Estados Unidos para que o Comando Vermelho (CV), uma das principais facções criminosas do país, seja oficialmente enquadrado como organização narcoterrorista. A informação foi revelada pela jornalista Malu Gaspar, em coluna publicada no jornal O Globo nesta segunda-feira (3).

O movimento de Castro culminou na entrega de um relatório confidencial à embaixada norte-americana no Brasil, intitulado “Análise Estratégica: Inclusão do Comando Vermelho nas listas de sanções e designações dos EUA”.

O documento, elaborado pela inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Rio, argumenta que a “sofisticação, transnacionalidade e brutalidade” da facção justificam sua inclusão em listas de sanções antiterrorismo, semelhantes às aplicadas a cartéis como o Tren de Aragua (Venezuela) e Los Zetas (México).

Segundo o relatório, a classificação permitiria aos EUA aplicar sanções econômicas contra o CV, facilitar extradições de líderes escondidos em países vizinhos e estabelecer cooperação direta com agências como DEA, FBI, Interpol e ONU.

A proposta também foi compartilhada com outros governadores da região Sudeste, que apoiam a medida como forma de ampliar o combate ao tráfico internacional de drogas e armas.

A iniciativa ocorre em meio à repercussão da megaoperação policial nas comunidades da Penha e do Complexo do Alemão, que deixou 121 mortos e reacendeu o debate sobre o poder das facções no país.

Castro defende que o Brasil siga o exemplo de Argentina e Paraguai, que já classificaram o CV como grupo terrorista.

O governo federal, no entanto, resiste à proposta. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, há receio de que a medida abra espaço para sanções contra empresas brasileiras e justificativas para ações invasivas dos EUA em território nacional, sob o pretexto de combate ao narcoterrorismo.

Em publicação nas redes sociais, Castro afirmou que o Brasil precisa “encarar a realidade” diante do avanço do narcotráfico e que “não há mais espaço para relativizações”. A proposta deve ser incorporada ao projeto de lei antifacção que o governo federal pretende enviar ao Congresso nos próximos dias.

A classificação de organizações criminosas como terroristas é tema sensível na diplomacia internacional e pode ter implicações jurídicas e econômicas profundas.

Especialistas alertam para o risco de internacionalização de conflitos internos e para os impactos sobre a soberania brasileira.